Em Portugal os Cuidados de Saúde Primários (CSP) têm evoluído significativamente nos últimos anos, nomeadamente com alterações a nível dos modelos de unidades funcionais e dos serviços prestados. A implementação da reforma dos CSP, com a constituição das Unidades de Saúde Familiar (USF), veio permitir melhores resultados, nomeadamente das USF modelo B1,2,3,4. O modelo organizativo das USF leva a maior motivação de todos os profissionais que a constituem tornando possível ganhos para todas as partes nomeadamente bons resultados em saúde para os utentes e para o próprio sistema de saúde. Temos de estar atentos pois não podemos em situação alguma permitir perdas na qualidade do serviço a prestar ao utente.
Esta qualidade é influenciada negativamente pelo aumento da dimensão da lista de utentes. Listas de utentes demasiado grandes levam, entre outras consequências negativas, a aumento do tempo de espera por uma consulta, do número de contactos telefónicos, das reclamações, das faltas, desmarcações e remarcações de consultas e da necessidade de métodos de triagem para determinar a prioridade de atendimento dos utentes e à consequente diminuição da satisfação dos utentes, dos resultados em saúde e da produção5,6.
Sabemos ainda que listas de utentes grandes, são incompatíveis com consultas com duração adequada a cada caso, levam ao excesso de trabalho médico com consequências nefastas para o trabalho produzido e para o próprio profissional.
Esta questão assume maior relevância uma vez que, concomitante à reforma dos CSP e à escassez de Médicos de Família, tem-se verificado, por razões políticas e governativas, um aumento da dimensão das listas de utentes atribuídas a cada médico, de forma a assegurar uma melhor cobertura da população e a consequente diminuição do número de utentes sem médico de família.
Adicionalmente os médicos de família tem assistido a um aumento das suas áreas de intervenção e prestam cuidados a uma população cada vez com maior necessidade de cuidados preventivos e curativos (pelo envelhecimento e aumento de comorbilidades).
Face a todos estes fatores a definição da dimensão “ideal” das listas de utentes, deve ter em conta a importância da atribuição de médico de família a todos os utentes mas também de garantir o acesso aos cuidados, qualidade do desempenho assistencial, satisfação dos utentes e dos profissionais e ganhos de eficiência.
Para esta definição é fundamental ter em conta que para ter bons CSP é essencial que os profissionais tenham tempo, quando o seu doente necessita, e estejam motivados para a sua entrega ao seu doente e ao estudo/formação contínua.